Apesar de crescimento de Marina em algumas capitais, pesquisam não a colocam no segundo turno; crescimento da candidata verde é tido por tucanos como única chance de a fatura de Serra não ser liquidada no domingo
Por: Maurício Thuswohl, especial para a Rede Brasil Atual
Publicado em 01/10/2010, 16:25
Última atualização às 16:36
Para Sérgio Guerra, presidente do PSDB, Marina cumpre um "excelente papel" (Foto: Thays Cabette/Divulgação)
Rio de Janeiro – Alardeada pela mídia conservadora nestes últimos dias de campanha eleitoral, a "onda verde" que estaria percorrendo o país pode não ser suficiente para levar a candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, ao segundo turno. A confirmação será vista neste domingo (3), mas, de acordo com as pesquisas de opinião divulgadas na quinta-feira (30), o crescimento de Marina acontece em algumas cidades específicas, como Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Salvador, mas em força insuficiente para fazê-la ultrapassar José Serra (PSDB).
Os levantamentos divulgados na quinta-feira mostraram Dilma Rousseff (PT), candidata governista ao Palácio do Planalto, com vantagem suficiente para levar a disputa já em primeiro turno. Apesar de não terem sido até aqui confirmados pelas pesquisas de intenção de votos, os boatos sobre a “onda verde" serviram para que mais uma vez fosse levantada a discussão sobre o papel da candidatura de Marina.
Apesar de partidários de Serra considerá-la apenas como uma linha auxiliar à coligação PSDB-DEM na tentativa de evitar nova vitória do PT já em 3 de outubro. As atitudes da candidata verde ao longo da semana e também durante os debates promovidos pelas TVs Record e Globo, no entanto, revelam que o comando da campanha de Marina parece apostar mesmo na possibilidade de ultrapassar Serra.
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“Vamos colocar duas mulheres no segundo turno. Vamos colocar a Silva contra a Rousseff”, têm repetido Marina. O objetivo de ultrapassar o tucano também foi explicitado pelo presidente do PV no Rio de Janeiro, Alfredo Sirkis, que foi um dos principais incentivadores da saída de Marina do PT para se lançar à Presidência da República pela sigla verde: “Acredito que a Marina possa ser beneficiária do voto útil por estar mais apta a enfrentar a Dilma no segundo turno”, disse.
No entanto, sem obter a confirmação da “onda verde” nas pesquisas de opinião pública, a direção da campanha de Marina reconhece as dificuldades para alcançar seu objetivo: “Para ir ao segundo turno, a gente precisa chegar ao eleitorado mais pobre”, avalia João Paulo Capobianco, coordenador da campanha do PV. Ele admite que o crescimento de Marina é observado apenas em alguns setores da classe média.
PSDB APOSTA EM MARINA
Se no PV o desejo de ultrapassar Serra parece genuíno, no campo PSDB-DEM é clara a intenção de inflar os boatos sobre a “onda verde” como uma forma de tirar votos de Dilma na reta final da campanha e dar uma sobrevida à candidatura tucana. “A Marina está cumprindo o papel dela. Um excelente papel que já viabilizou o segundo turno”, afirma o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, engrossa o coro: “Marina cresce e o Serra também. Há chances de o Serra ir ao segundo turno”, disse.
O cenário ideal para os demotucanos seria levar Serra ao segundo turno e conquistar o apoio de Marina. Para essa eventual aproximação, o PSDB já escalou o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves. “Vejo algumas afinidades que podem nos aproximar da Marina ou dos eleitores da Marina. Se levarmos Serra ao segundo turno, vamos precisar de um discurso que nos aproxime dos eleitores do PV”, afirmou o ex-governador de Minas Gerais na quarta-feira (29).
As palavras do tucano, no entanto, revelam que a adoção de um discurso próximo aos verdes não seria um movimento natural do PSDB. Essa falta de proximidade política é ressaltada no PV, sobretudo no grupo que saiu do PT com Marina. “Acreditamos que vamos chegar ao segundo turno. Mas, se acontecer um segundo turno entre Dilma e Serra, vai cair do cavalo quem pensa que Marina vai declarar apoio ao Serra”, afirma um dirigente da campanha de Marina, ex-petista, que pede para não ser identificado.
Por outro lado, não é pouca a proximidade ainda existente entre boa parte da militância petista e o grupo que saiu com Marina para o PV. Pensando nisso, o comando da campanha de Dilma aconselhou a candidata a evitar o confronto com Marina no debate da Globo, dias depois de as duas candidatas terem trocado farpas no debate da Record: “Vamos ganhar no primeiro turno e não descartamos o diálogo com Marina na formação do novo governo”, afirma o ex-governador do Acre, o petista Jorge Vianna, que concorre ao Senado com o apoio do PV.
ESPAÇO PRÓPRIO
Na realidade, enquanto o PSDB e o PT sonham com o apoio do PV na formação do governo ou num eventual segundo turno, os verdes enxergam na candidatura de Marina uma oportunidade ímpar de fortalecer o partido no cenário político nacional. Isso será um fato concreto se Marina alcançar um patamar próximo aos 20% dos votos em 3 de outubro.
"Independentemente da ida de Marina ao segundo turno, o PV sai fortalecido destas eleições”, afirma o ex-superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rogério Rocco. O ambientalista saiu do PT com Marina e, segundo as pesquisas, deve conseguir uma cadeira de deputado estadual no Rio de Janeiro.
Mesmo se dizendo confiante na ida de Marina ao segundo turno contra Dilma, Rocco é outro que rejeita o eventual apoio do PV a Serra no caso de um segundo turno entre o tucano e a petista. “Temos um projeto político definido e vamos disputar espaço político na sociedade para fazer esse projeto crescer. Se houver segundo turno e nós não estivermos nele, o PV não deve apoiar o Serra, mas também não deve apoiar a Dilma”, alerta.
O Rio é justamente uma das capitais onde, segundo as pesquisas, Marina já atingiu o almejado patamar de 20% das intenções de voto (tem 22%, segundo o Datafolha). Por isso, a candidata verde vai se concentrar na cidade nos próximos dias e terminará sua campanha com uma caminhada pela Orla de Copacabana ao lado do candidato a governador pelo PV – e defensor do apoio a Serra em um eventual segundo turno – Fernando Gabeira, outro que ainda sonha surfar na “onda verde” para melhorar o próprio desempenho eleitoral. Sérgio Cabral (PMDB) tem ampla vantagem, segundo as pesquisas de intenção de votos, e venceria em primeiro turno.