A disposição de fotos na parede do gabinete do senador Jorge Viana
(PT-AC) explica muito de seu perfil. Entre muitas imagens de Lula, estão também
Dilma Rousseff, Marina Silva, Tancredo Neves, João Goulart e até o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que patrocinou sua primeira eleição a
governador do Acre, em 1998. Um dos fundadores do PT, Viana é moderado e mantém
relações com políticos de todos os espectros. Semana passada, a direção do PT
tentou enquadrá-lo, após ele fazer um discurso colocando-se contra a proposta,
defendida pelo partido e pelo governo, que tenta inviabilizar o Rede
Sustentabilidade, de Marina, sua parceira política há três décadas. Em
entrevista ao GLOBO, o senador critica a articulação do governo e destaca a
necessidade de os três poderes dialogarem para evitar crises como a da semana
passada.
Como se deu a crise em relação ao projeto contra a criação de novos
partidos?
Não sou da base do governo, sou da bancada do governo. Mas, com a
experiência que vivi de prefeito e governador, sempre petista, toda vez que eu
vir que, para a nossa história, para o meu partido e para o nosso governo, o
melhor caminho não é o que estão apontando, vou pegar o melhor caminho, e o
farei de maneira pública. Porque é essa coerência que nós, que queremos ser
respeitados, temos de buscar.
Houve pressão?
Aqui no Senado não tínhamos tratado dessa matéria e, olhando para a
história do PT e do nosso governo, me posicionei e honrei isso. Nenhum partido
foi mais vítima de casuísmos do que o PT: mudou-se período de governo, criou-se
a reeleição de maneira fraudulenta, e outras regras foram mudadas, sempre
contra o PT.
É um erro o projeto contra os novos partidos?
O Rede Sustentabilidade é algo novo, que vem legitimado em movimentos
sociais e que se soma ao esforço de resgatar o respeito dos partidos e da
política. O surgimento de um partido que traz uma liderança como a Marina é
legítimo e tem que ser até saudado. Qualquer tentativa de mexer em regras que
afetem candidaturas como de Marina ou de Eduardo (Campos, do PSB) não nos diz
respeito, porque estamos governando o Brasil, e bem. Se a gente erra a mão
nisso, a gente torna vítima quem não é, e nos distanciamos daquilo que a gente
sempre defendeu.
No mesmo dia, na Câmara dos Deputados, foi votado o projeto de um deputado
do PT que limita as ações do Supremo.
Acho que é absolutamente legítimo se querer alterar a qualificação
desses votos (do Supremo) para algumas matérias. Só que este momento é
inadequado para tratarmos disso. Não é bom, ainda mais no ambiente em que temos
vivido, fazer um acirramento na relação entre os poderes. Isso tem feito mal ao
país. Há absoluta deficiência de interlocução entre os poderes em Brasília, e
há temas que exigem posicionamentos duradouros, que pensem a República.
A falta de interlocução política no Congresso é o principal problema do
governo?
O PT mudou o Brasil, seus indicadores sociais, criou base para o
crescimento, incluiu mais de 40 milhões de pessoas. Nossa agenda histórica está
sendo implementada. Agora, naquilo em que nós sempre fomos tidos como bons, que
é no fazer política, estamos surpreendendo negativamente. Eu comparo o PT à
seleção brasileira: é tida como a melhor do mundo, mas, de vez em quando, joga
como perna de pau e toma chocolate. A ministra Ideli (Salvatti, de Relações
Institucionais) precisa de mais apoio. Precisamos ter uma relação melhor com os
aliados, e isso tem que ser feito com profissionalismo. É de um amadorismo
surpreendente o trato que a gente dá para estratégias da política.
Essa instabilidade pode afetar a reeleição?
A presidente Dilma surpreendeu positivamente nestes dois primeiros anos
e tem grande apoio popular. São enormes as condições para que seja reeleita.
Mas, para que isso aconteça, não podemos errar muito, principalmente no
governo. A reeleição depende mais da gente do que dos arranjos da oposição, que
foi quem de fato antecipou as eleições. Agora eles fazem um movimento que é
novo, mas esperado, que é o de se reunir com os que foram aliados nossos e que
se dispõem a fazer um enfrentamento com o projeto que ajudaram a construir.
Não foi o ex-presidente Lula que antecipou a eleição ao lançar a
reeleição de Dilma?
Ele fez um movimento interno para o PT. Como alguns levantavam dúvidas,
ele disse que ela era a candidata. Com isso, liberou a presidente para ficar
livre, leve e solta, e governar. A presidenta realmente mexeu na agenda dela de
viagens e do palácio, e foi uma decisão política muito acertada. Agora, vejo
com perplexidade que o PSDB, que criou a reeleição, propõe o fim dela, talvez
com medo do pós-Dilma ou de uma eventual volta do Lula.
Lula pode voltar em 2018?
Espero que o pijama esteja muito distante dos planos do presidente.
Agora é que ele está ficando bom. É uma das maiores lideranças do mundo. O PT
tem as duas maiores lideranças do país, Dilma e Lula, e é cedo para abrir mão
deles.
Fonte: O Globo