Bombardeado sem piedade pela
mídia, o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, garantiu nesta quinta-feira
(28) que processará os que o acusam de interferir indevidamente nas
investigações do propinoduto tucano de São Paulo. “Todos, sem exceção, os que
me chamaram de vigarista, de membro de quadrilha, de sonso e de outras
adjetivações ‘tão elegantes’, serão processados criminalmente”, afirmou à
Agência Brasil. O ministro não deu nome aos bois, mas o recado foi explícito.
Ele se referia a vários grãos-tucanos, o que também serve para certos
“calunistas” da mídia.
“O ministro de Estado da
Justiça não pode aceitar ser chamado de 'vigarista' e 'sonso', no sentido de
dissimulado. Não pode aceitar ser chamado de membro de quadrilha e não reagir,
ele não defende o cargo, porque esse é um cargo de Estado. Acusar um ministro
de vigarista é inaceitável e atinge o próprio cargo”, afirmou José Eduardo
Cardozo. A bronca do sempre tão passivo e conciliador ministro é plenamente
justificável. Afinal, ele não fez mais do que a sua obrigação ao enviar à
Polícia Federal as graves denúncias de corrupção em São Paulo.
Diante da sua atitude
“republicana” – para usar um termo da moda –, a mídia tucana passou a
questionar a sua permanência no cargo e os chefões tucanos passaram a
desqualifica-lo. O PSDB inclusive ingressou com representação contra o ministro
na Comissão de Ética Pública da Presidência da República, numa evidente
tentativa de sabotar as apurações sobre os desvios do propinoduto paulista e de
desviar o foco das denúncias. Alguns tucanos acusados de receber propina da
Siemens partiram para baixaria, abusando das tais “adjetivações tão elegantes”.
Aécio Neves, o cambaleante
presidenciável do PSDB, chegou a propor o afastamento de Cardozo do Ministério
da Justiça. “A ação do ministro não coaduna com preceitos republicanos. A forma
açodada como agiu e a sua omissão tiram dele as condições de conduzir essas
investigações”, esbravejou. Para ele, “o PT faz um mal enorme à democracia ao
se apropriar das instituições como patrimônio para tentar perpetuar o projeto
de poder”. Haja cinismo do ex-governador de Minas Gerais, estado hegemonizado
pelos tucanos e abalado por tantos escândalos – o mais recente o do
“helicóptero do pó”.
Diante de tantos ataques, o
ministro José Eduardo Cardozo finalmente resolveu reagir: “Querem uma cortina
de fumaça em relação aos fatos. Parece que se tem perdido a dimensão de que
essa investigação que ocorre relativo às obras do metro não é apenas
brasileira, é mundial e está diretamente relacionada ao que ocorre em vários
países. Temos vários países que já investigaram e já puniram o cartel... Acho
inaceitável, seja para tentar desviar a atenção de uma investigação séria, seja
para intimidar, que pessoas atinjam a honra com tão baixo nível”.
Agora é conferir se esta
justa valentia vai até as últimas consequências ou se, mais uma vez, irá vingar
o velho pragmatismo e as negociatas de bastidores. Aguardemos, portanto, a
abertura dos primeiros processos criminais!
Por Altamiro Borges