Discurso de Dilma em Davos é bem recebido por empresários e banqueiros
- Maioria das reações à fala da presidente identificou que Brasil tem potencial, embora precise de ajustes, principalmente na infraestrutura
- Recuperação de economias desenvolvidas também deve impactar desempenho de emergentes, afirmam especialistas
Na sua estreia no Fórum Econômico Mundial em Davos - onde estão
reunidos os principais líderes empresariais e políticos do mundo – Dilma
Rousseff fez o discurso que o investidor estrangeiro quis ouvir: reafirmou sua determinação em manter o combate à inflação, o compromisso fiscal e o câmbio flutuante.
A
estreia da presidente foi marcada por um cenário de desconfiança em
relação aos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul), identificados como motores do crescimento mundial há alguns anos,
mas atualmente em plena desaceleração. Um cenário novo que inclui a
recuperação surpreendente de países ricos, como os Estados Unidos, e a
fuga de investidores.
A
reação, em geral, foi positiva. Enrique Iglesias, ex-presidente do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e atual secretário-geral
da Secretaria Geral Iberoamericana, disse que Dilma passou uma mensagem
“positiva e realista do potencial do Brasil”.
- (Vocês) enfrentam
problemas, como todos. Mas creio que hoje ninguém discute o potencial de
desenvolvimento do Brasil. Todos os países têm altos e baixos em
matéria de ciclos - afirmou.
Gerard Hartsink, presidente do CLS
Bank International, disse que não está preocupado com pressão da
inflação no Brasil. E acha que as grandes descobertas de petróleo são um
“estímulo positivo” ao crescimento do país. Mas ele acha chama atenção
para problemas em outras áreas:
_ A economia ainda não está aberta
e há barreiras para os investidores estrangeiros. Há preocupação de que
o dinheiro está saindo do país.
Mas o banqueiro disse que continua positivo em relação ao Brasil:
- Estive muitas vezes no Brasil. Sou muito positivo em relação ao Brasil – disse.
Frederico
Curado, presidente da Embraer, salientou que as principais mensagens
para os estrangeiros foram dadas, como disse que as mensagens
importantes foram dadas: de austeridade fiscal, controle de inflação,
investimento privado brasileiro e estrangeiro, infraestrutura, educação.
Perguntado
se o discurso de Dilma convenceu, num cenário de baixo crescimento,
pressão inflacionária e desencanto com a desaceleração dos Brics ,
Curado respondeu:
- Eu acho. O Brasil vai acabar crescendo.
Desatando este nó da infraestrutura, aeroportos e portos indo em frente,
acho que isso vai puxar o crescimento.
EUA estão ‘mais emergentes que emergentes’
Ricardo
Villela Marino, vice-presidente do banco Itaú também saiu satisfeito.
Ele disse que Dilma fez um “discurso positivo, de quem mostra que está
entendendo a problemática do país domesticamente e a situação global
depois de cinco anos de crise financeira global”.
- A maior preocupação agora é ver a implementação destas políticas e planos anunciados. A direção está acertada.
Para
Marino, o fato de os Estados Unidos estarem hoje “mais emergentes que
os (países) emergentes” - ou seja, retomando o crescimento - e a Europa
estar saindo da recessão “é bom para o Brasil”. Mas ele alerta:
-
Claro que isso vai ter consequências externas, dado que eles vão mudar a
política monetária dos Estados Unidos, tirando os estímulos. E a
perspectiva de aumento de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central
americano) vai fazer com que mais capital entre nos Estados Unidos,
saindo dos mercados emergentes e depreciando ainda mais a cesta de
moedas nos países emergentes.
FMI: é hora de ajustar
Min
Zhu, o vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), não
ouviu o discurso. Mas segundo ele, embora o crescimento de 2% do Brasil
hoje não seja suficiente, emergentes em geral “deveriam estar mais
felizes com um pouco de desaceleração”. Por um motivo, segundo ele, é a
oportunidade de ajustar para um ambiente externo que está mudando.
-
A atmosfera externa está mudando. Liquidez está ficando difícil. Depois
de uma década de crescimento, é hora de ajustar. É absolutamente
importante entender a mudança de vento agora, e ajustar.
Ele reconheceu que 2% não é um bom crescimento para o Brasil, mas insistiu:
- No ambiente atual, é importante colocar o pé numa base sólida.
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, também ficou satisfeito com a fala da presidente:
-
Convenceu. Ela reafirmou algumas coisas que é muito valorizada pelo
investidor: reafirmou a meta de inflação, o câmbio flutuante e o
compromisso fiscal.
Mas Trabuco lembrou que “o mercado é sempre
assustado”. E que embora a economia brasileira seja diferente da de seus
vizinhos, como a Argentina, é preciso agora “foco”:
- O Brasil
precisa de foco em realizações. Está fazendo, mas precisa fazer mais. É o
grande desafio, da infraestrutura urbana, principalmente. O Brasil é um
país produtivo. Mas não somos competitivos.
Desempenho melhor em encontro do Conselho Internacional de Negócios
Empresários
que participaram do encontro de Dilma com o Conselho Internacional de
Negócios do Fórum Econômico Mundial foram praticamente unânimes em
afirmar que seu desempenho foi bem melhor do que sua intervenção no
grande plenário.
- Ela estava bem mais solta e foi muito política – disse um executivo brasileiro que preferiu manter o anonimato.
Na
reunião, Dilma abordou praticamente os mesmas temas tratados em seu
discurso principal: controle fiscal, abertura aos investidores
estrangeiros e estabilidade inflacionária.
Segundo outro
empresário presente, a audiência ficou especialmente entusiasmada quando
a presidente insistiu que o Brasil tem de abandonar a “cultura do selo”
e desburocratizar o país. (Colaborou Fernando Eichenberg)
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