sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Discurso de Dilma em Davos é bem recebido por empresários e banqueiros

  • Maioria das reações à fala da presidente identificou que Brasil tem potencial, embora precise de ajustes, principalmente na infraestrutura
  • Recuperação de economias desenvolvidas também deve impactar desempenho de emergentes, afirmam especialistas

Presidente Dilma Rousseff discursa no Fórum Econômico Mundial
Foto: ERIC PIERMONT / AFP
Presidente Dilma Rousseff discursa no Fórum Econômico Mundial ERIC PIERMONT / AFP
Na sua estreia no Fórum Econômico Mundial em Davos - onde estão reunidos os principais líderes empresariais e políticos do mundo – Dilma Rousseff fez o discurso que o investidor estrangeiro quis ouvir: reafirmou sua determinação em manter o combate à inflação, o compromisso fiscal e o câmbio flutuante.
A estreia da presidente foi marcada por um cenário de desconfiança em relação aos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), identificados como motores do crescimento mundial há alguns anos, mas atualmente em plena desaceleração. Um cenário novo que inclui a recuperação surpreendente de países ricos, como os Estados Unidos, e a fuga de investidores.
A reação, em geral, foi positiva. Enrique Iglesias, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e atual secretário-geral da Secretaria Geral Iberoamericana, disse que Dilma passou uma mensagem “positiva e realista do potencial do Brasil”.
- (Vocês) enfrentam problemas, como todos. Mas creio que hoje ninguém discute o potencial de desenvolvimento do Brasil. Todos os países têm altos e baixos em matéria de ciclos - afirmou.
Gerard Hartsink, presidente do CLS Bank International, disse que não está preocupado com pressão da inflação no Brasil. E acha que as grandes descobertas de petróleo são um “estímulo positivo” ao crescimento do país. Mas ele acha chama atenção para problemas em outras áreas:
_ A economia ainda não está aberta e há barreiras para os investidores estrangeiros. Há preocupação de que o dinheiro está saindo do país.
Mas o banqueiro disse que continua positivo em relação ao Brasil:
- Estive muitas vezes no Brasil. Sou muito positivo em relação ao Brasil – disse.
Frederico Curado, presidente da Embraer, salientou que as principais mensagens para os estrangeiros foram dadas, como disse que as mensagens importantes foram dadas: de austeridade fiscal, controle de inflação, investimento privado brasileiro e estrangeiro, infraestrutura, educação.
Perguntado se o discurso de Dilma convenceu, num cenário de baixo crescimento, pressão inflacionária e desencanto com a desaceleração dos Brics , Curado respondeu:
- Eu acho. O Brasil vai acabar crescendo. Desatando este nó da infraestrutura, aeroportos e portos indo em frente, acho que isso vai puxar o crescimento.
EUA estão ‘mais emergentes que emergentes’
Ricardo Villela Marino, vice-presidente do banco Itaú também saiu satisfeito. Ele disse que Dilma fez um “discurso positivo, de quem mostra que está entendendo a problemática do país domesticamente e a situação global depois de cinco anos de crise financeira global”.
- A maior preocupação agora é ver a implementação destas políticas e planos anunciados. A direção está acertada.
Para Marino, o fato de os Estados Unidos estarem hoje “mais emergentes que os (países) emergentes” - ou seja, retomando o crescimento - e a Europa estar saindo da recessão “é bom para o Brasil”. Mas ele alerta:
- Claro que isso vai ter consequências externas, dado que eles vão mudar a política monetária dos Estados Unidos, tirando os estímulos. E a perspectiva de aumento de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano) vai fazer com que mais capital entre nos Estados Unidos, saindo dos mercados emergentes e depreciando ainda mais a cesta de moedas nos países emergentes.
FMI: é hora de ajustar
Min Zhu, o vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), não ouviu o discurso. Mas segundo ele, embora o crescimento de 2% do Brasil hoje não seja suficiente, emergentes em geral “deveriam estar mais felizes com um pouco de desaceleração”. Por um motivo, segundo ele, é a oportunidade de ajustar para um ambiente externo que está mudando.
- A atmosfera externa está mudando. Liquidez está ficando difícil. Depois de uma década de crescimento, é hora de ajustar. É absolutamente importante entender a mudança de vento agora, e ajustar.
Ele reconheceu que 2% não é um bom crescimento para o Brasil, mas insistiu:
- No ambiente atual, é importante colocar o pé numa base sólida.
Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, também ficou satisfeito com a fala da presidente:
- Convenceu. Ela reafirmou algumas coisas que é muito valorizada pelo investidor: reafirmou a meta de inflação, o câmbio flutuante e o compromisso fiscal.
Mas Trabuco lembrou que “o mercado é sempre assustado”. E que embora a economia brasileira seja diferente da de seus vizinhos, como a Argentina, é preciso agora “foco”:
- O Brasil precisa de foco em realizações. Está fazendo, mas precisa fazer mais. É o grande desafio, da infraestrutura urbana, principalmente. O Brasil é um país produtivo. Mas não somos competitivos.
Desempenho melhor em encontro do Conselho Internacional de Negócios
Empresários que participaram do encontro de Dilma com o Conselho Internacional de Negócios do Fórum Econômico Mundial foram praticamente unânimes em afirmar que seu desempenho foi bem melhor do que sua intervenção no grande plenário.
- Ela estava bem mais solta e foi muito política – disse um executivo brasileiro que preferiu manter o anonimato.
Na reunião, Dilma abordou praticamente os mesmas temas tratados em seu discurso principal: controle fiscal, abertura aos investidores estrangeiros e estabilidade inflacionária.
Segundo outro empresário presente, a audiência ficou especialmente entusiasmada quando a presidente insistiu que o Brasil tem de abandonar a “cultura do selo” e desburocratizar o país. (Colaborou Fernando Eichenberg)

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