A MÁSCARA SELVAGEM DO ESTADÃO
Senti uma imensa tristeza ao receber o
jornal O Estado de S. Paulo em pleno dia do trabalho. O jornal publicou um
editorial, “Lições de Selvageria” (A3, 01/05/2015), classificando os
professores como “partidários” e “selvagens”, chamando-os implicitamente de
vagabundos, justificando assim o massacre da Polícia Militar contra a nossa
categoria no Paraná com argumentos baseados em distorções: “não se poderia
esperar outra reação da força de segurança destacada”. Fez-me adoecer tamanha
insensatez e ignorância.
Alguns colegas me disseram: “Este
jornal é de direita, já era de se esperar”. Não concordo. A verdadeira direita,
liberal e republicana, jamais teria justificado o uso da força nem trataria os
professores como “inimigos da democracia”. Pelo contrário, uma das
bandeiras da direita é a educação pública de qualidade para garantir as
condições de igualdade do livre mercado e o exercício da democracia. Os
verdadeiros liberais flertam com os professores, os defendem mesmo quando
discordam de suas opiniões. Por esse motivo os países liberais pagam excelente
salários no campo da educação enquanto as ditaduras comunistas fizeram suas
“revoluções culturais” aos moldes truculentos do PSDB. A “confusão de valores,
a desinformação e a desmoralização das instituições” não advém dos professores
como escreveram, mas da imprensa servil aos obscuros interesses políticos.
Os fundadores deste jornal,
Francisco Rangel Pestana (1839-1903), Julio Mesquita (1862-1927) e Julio de
Mesquita Filho (1892-1969), liberais autênticos, lutaram ao lado dos
professores e intelectuais por escolas e universidades públicas de qualidade –
ao contrário do que faz a atual geração, representada pelo sr. Francisco
Mesquita Neto.
A direita no Brasil é um fenômeno
raro e não tem um partido de verdade. UDN, Arena, PFL/DEM, PSDB, PSC e outros
partidos considerados de “direita” estão em um leque entre “reacionários” e
“fascistas”, defensores de uma sociedade de casta. Para disfarçar seus reais
interesses autoritários, mão de obra barata e subserviente, distinção de
espaços entre os senhores e seus servos, eles utilizam o discurso liberal como
bem lhes convém e se autoproclamam como “direita”. Thomas Jefferson, Ludwig von
Mises e Milton Friedman servem somente como figura retórica – os seus textos e ideias
são recortados e descontextualizados para que os ideólogos ligados à elite
possam mascarar suas políticas de exploração social. Como alguns religiosos
fazem para ludibriar seus fiéis. Afinal, não convém escrever nos editoriais que
os negros, pobres e nordestinos são inferiores e não merecem as benesses do
Estado brasileiro. A sociedade defendida hoje pelas elites representadas por
este editorial não é a sociedade ideal da verdadeira direita, defendida pelos
pais fundadores do jornal que militavam pelos ideais abolicionistas,
republicanos e liberais da igualdade entre os cidadãos, bem comum e de
progresso social.
Para ter uma sociedade capitalista
bem-sucedida é preciso uma boa educação e, pasmem, para que haja uma boa
educação é preciso ter professores motivados e bem pagos. Os Mesquitas sabem,
pois seus ancestrais ensinaram. Mas quem disse que nossa elite quer uma
sociedade capitalista bem-sucedida? O pensamento crítico, a participação
democrática da população e a igualdade social são tudo o que as novas gerações
de empresários não querem – acham que a ralé não precisa de boa educação, mas
de trabalho braçal para se ocupar e da violência policial para acabar com as
subversões.
É de se questionar que tipo de
jornalismo estão fazendo.
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