A partir de hoje os leitores de ac24horas ganham mais conteúdo. E da melhor qualidade. O professor João Correia Lima passará a escrever pelo menos duas vezes por semana neste espaço, falando, entre outras coisas de economia e política, assuntos que domina com maestria. Pra começar, o sugestivo texto sob o titulo de:
Os Estábulos da “Presidenta”;
Dilma Roussef venceu
Os Estábulos da “Presidenta”. Dilma Roussef venceu AécioNeves em segundo turno por ínfimo percentual de votos. Ela obteve apoio em todas as camadas sociais, contrariando os que julgam que seu nicho circunscreveu-se aos pobres do bolsa família. O bolsa empresário da lavra do BNDES conciliou-a com a alta burguesia e a CUT representando a aristocracia operária e o funcionalismo público vinculou-a aos segmentos médios de renda dos brasileiros. Apenas em minha área profissional, um nicho modesto para as dimensões do Brasil, merece realce o apoio explícito e ruidosamente militante à ” Presidenta” por parte do CRUB (Conselho de Reitores ), do ANDES (sindicato dos professores universitários federais), da FASUBRA ( sindicato dos técnicos e administrativos das Universidades ) e da UNE( união nacional dos estudantes ); e isto sem contar suas ramificações pelos estados.
A candidata Dilma não teve preguiça nem moderação em prometer mundos e fundos, todos implicando na manutenção ou aumento na despesa pública, sinalizando as orgias bacantes que vinham da metade do segundo governo Lula. Tudo indicava que as farras com o dinheiro do contribuinte seriam mais e mais comuns, ampliando-se a irresponsabilidade fiscal e a esbórnia nas contas do país. Isto elegeu-a.
É bem verdade que a candidata Dilma Roussef havia dado um sinal de oráculo de que mudaria a política econômica. Demitiu em plena campanha o longevo ministro da Fazenda, Guido Mântega, principal ideólogo de que o dinheiro do contribuinte nasce com a profusão das folhas de árvores nas florestas.
Vitoriosa e reempossada, Dilma mordeu a corda, como se diz no popular, e resolveu fazer um ajuste econômico/ fiscal ortodoxo, antagônico ao prometido, nomeando Joaquim Levy para a condução da economia. A escolha não poderia ser mais emblemática. Levy doutorou-se em Chicago, EUA, considerada a principal formuladora do liberalismo moderno, satanizada pela esquerda como a matriz do neoliberalismo. Dúvidas não há de que a teoria e a prática de Joaquim Levy vinculam-se muito ao pensamento original de Milton Friedman. Sua trajetória pelo Plano Real, pela recuperação do erário do Rio de Janeiro e pela iniciativa privada revelaram, no entanto, um economista dedicado, preparado, competente e eficiente.
Trair seus eleitores foi a atitude mais correta que a ” Presidenta ” Dilma Roussef poderia fazer pelo Brasil; sua principal virtude veio de seu crime, de suas mentiras, de seu estelionato. Se ela não for impedida, mesmo sendo opaca e sem brilho, com perdão do sinônimo, nada impede o futuro de lhe reservar reconhecimento de sua atitude de agora. Neste entremeio, haverá choro e ranger de dentes com os açoites cruéis da recessão, mas, se tudo puder se encaminhar, poucos governantes poderão exibir uma faxina tão oportuna da sujeira que criaram na economia e na sociedade de um país, mesmo sem a chance de recuperar o tempo desperdiçado ao avanço do Brasil.Se conseguir completar a travessia, Dilma terá feito um dos doze trabalhos de Hércules, ao limpar os estábulos do rei Áugias. Só que o esterco acumulado nos estábulos de Áugias, de três mil reses, por longos trinta anos, era bovino; no caso de Lula e Dilma, não, o esterco será humano, acumulado por seis anos de banquetes permanentes, por dezenas de milhões de comensais vorazes, começando por Lula, Dilma, o PT e aliados e todas as suas linhas auxiliares, espalhadas e aparelhadas nas sociedades civil e política do Brasil.
Não consigo ter o mínimo de compaixão ou solidariedade aos eleitores traídos e enganados por Dilma. Não se trata de ser ou não ser humano. É que se ela fosse cumprir suas mentiras e lorotas com seus eleitores, torrando dinheiro sem saber de onde vem, ela tiraria o Brasil do mapa das nações civilizadas; ela levaria o país a uma inevitável bancarrota de consequências funestas e catastróficas. Talvez passássemos uma ou duas gerações tentando nos recuperar inteiramente desse hipotético desastre, desta rematada insensatez. Mesmo se manifestando democraticamente, os eleitores de Dilma não pensaram no Brasil e nas gerações futuras. Fizeram, egoisticamente, tal e qual fez Luís XV, em França: ” depois de mim, o dilúvio”, que afinal sobreveio no vendaval da maior revolução da modernidade.
Basta deitarmos o olhar na Grécia de hoje. Com uma dívida pública de180% do PIB, a recessão já pulverizou 40% das riquezas do país. Nosso caso parece menos grave, mesmo com nossas maiores pobreza e desigualdade. O Brasil encolherá em torno de 2%, neste ano, e a crise ainda não mostrou inteiramente suas garras afiadas e mortais. Em 2015 ela já destruiu 250 mil empregos e ceifará, até o final do ano, mais algumas centenas de milhares deles, tão vitais aos brasileiros. Em dois ou três anos, talvez, afastaremos os malefícios da irresponsabilidade fiscal e cresceremos de forma saudável; os tempos atuais serão conhecidos como os tempos maus, aos quais jamais desejaremos voltar.
*João Correia é ex-deputado federal pelo Acre (PMDB) e atualmente é professor de Economia da Universidade Federal do Acre
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