Dois pré-candidatos à Presidência tiveram ontem reações diferentes aos tiros dados em dois ônibus da caravana do ex-presidente Lula. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mudou o tom. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) voltou a incitar o ódio.
Alckmin havia dito anteontem que os petistas estavam “colhendo o que plantaram”. Foi um erro culpar a vítima. Ontem, o tucano recuou. Afirmou que era “papel das autoridades apurar e punir os tiros contra a caravana do PT”.
Bolsonaro sugeriu que os tiros teriam partido do próprio PT, numa armação política. Falou ainda que “Lula quis transformar o Brasil num galinheiro, agora está por aí colhendo ovos por onde passa”
O governador de São Paulo teve a humildade de corrigir um erro. Alckmin agiu com responsabilidade. O deputado federal foi leviano, sugerindo uma autoria que ainda está em apuração e que é implausível com os relatos das pessoas que estavam nos ônibus e ouviram estampidos e pensaram que fossem mais pedras atingindo a lataria do veículo.
Bolsonaro agiu com irresponsabilidade. Mostrou despreparo para comandar o país.
Quem é candidato à Presidência da República precisa ter equilíbrio e moderação. É um trabalho difícil, sujeito a enormes pressões, exige reflexão para decisões complexas. Se o presidente erra, tem de saber recuar e corrigir rumos.
Alckmin mudou o tom. Condenou a violência e pediu que as autoridades tomassem providências. Corrigiu um erro e manteve suas diferenças políticas, alfinetando o PT. Alckmin afirmou que “o país está cansado de divisão e da convocação ao conflito”, voltando à linha tucana de atribuir ao PT a responsabilidade por essa divisão, o que é errado, mas é um direito dele. O crescimento da intolerância no debate público é obra do conjunto da sociedade brasileira.
Bolsonaro deu declarações que jogam lenha na fogueira. Para piorar, há uma foto de um comício dele ontem em Curitiba que mostra o pré-candidato simulando com o dedão e o indicador estar dando tiro na cabeça de um boneco do ex-presidente Lula.
Isso é incitação ao ódio. É irresponsável, porque transmite um sinal verde para apoiadores radicais. Não é democrático, porque sugere a exterminação do adversário pela violência. Um candidato com esse tipo de atitude não está à altura da Presidência da República.
O Brasil vive uma crise grave. As eleições podem ser a oportunidade para superarmos essa crise ou pode aprofundar nossas mazelas. Não podemos subestimar o risco de piora.
A morte de Marielle e uma série de fatos recentes indicam que é alta a possibilidade de pular no abismo. Isso aumenta a responsabilidade da classe política, mas também de todos os cidadãos, inclusive dos jornalistas.