Apoio a Bolsonaro cria racha em família com história tucana
Em tempos de polarização, a política se tornou tema proibido em muitos almoços de domingo. Em uma família em particular, as paixões eleitorais puseram irmãos em lados opostos da mesa.
O ruralista Frederico D’Avila, 40, colaborou com o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) por quase 20 anos. Foi seu assessor no governo de São Paulo. Trabalhou em diversas de suas campanhas eleitorais. É padrinho de casamento de sua filha, Sophia.
Luiz Felipe D’Avila, 54, meio-irmão de Frederico por parte de pai, foi trazido de volta ao PSDB em 2017. Disputou as prévias para o governo paulista e agora é um dos coordenadores da campanha tucana à Presidência.
No ramo nordestino da família, o primo Guilherme Coelho, 56, é pré-candidato a deputado federal pelo PSDB e trabalha para se viabilizar como candidato a vice-governador de Pernambuco na chapa de Armando Monteiro (PTB). Se diz pronto para fazer o palanque de Alckmin no estado.
Tudo indicava que, nesta família, os almoços de domingo estavam ganhos para o tucano. Mas Frederico rompeu com o padrinho para contribuir com Jair Bolsonaro (PSL), seu principal rival na eleição.
“Aquele estilo dele definhou”, justifica. “Eu cansei. É muita falta de posição firme sobre determinados temas, especialmente agropecuária e questões de polícia.”
Frederico é entusiasta das políticas prometidas por Bolsonaro como armar a população e adotar penas mais severas para criminosos, especialmente no campo, onde exerce sua atividade profissional.
Luiz Felipe considera as propostas do capitão da reserva absurdas, feitas por “um cara imprevisível e errático”, como definiu à Folha de S.Paulo em maio. Para ele, cientista político de formação, o Brasil precisa da personalidade menos explosiva de Alckmin para sair da crise.
Os irmãos disputarão um com o outro nas urnas em outubro. Mas já competem pelo apoio do pai. Aluizio D’Avila não quer nem saber: “Quando o assunto são os meninos, prefiro não falar. Pode me virar um problema em casa”.
Ele disse que ainda pondera os argumentos de Luiz Felipe e os de Frederico para tomar sua decisão. “Estou desanimado, não vejo um candidato que possa corresponder ao que o Brasil espera”, contou.
“Essa eleição será difícil. Em 1989, quando [Fernando] Collor ganhou, eu tinha esperança nele. Não sei por que, já não era nenhuma criança, mas acreditava que Collor seria o que dizia que era, e no fim foi aquele fiasco”, disse.
Frederico anunciou o rompimento com Alckmin em entrevista à Folha de S.Paulo no final de abril. Procurou “doutor Geraldo” antes disso, para “falar que era um risco grande ele ser candidato”. Também esteve com Sophia. Desde então, não se falaram mais. Amigos dizem que ele era tratado pelo presidenciável quase como um filho, que, para preservá-lo do jogo duro da política, nunca o incentivou a assumir cargos ou disputar eleições.
Frederico diz que as razões pelas quais rompeu são basicamente três. “1. Posicionamentos dúbios e acanhados em relação aos temas caros ao setor do agronegócio; 2. Alianças com esquerdistas, o que gerou muitas concessões; 3. A não valorização do trabalho das polícias.”
Descontada a irritação inicial, a relação entre Frederico e Luiz Felipe voltou ao normal. Entre irmãos, fala-se de tudo, viagens, filhos, animais de estimação. Só não se fala naquilo. “O nosso ideal é o mesmo”, afirma Frederico. Luiz Felipe não quis comentar a divergência.
Em um café nos Jardins na semana passada, Guilherme Coelho brincou com Frederico. “É um irresponsável”, disse, rindo. “Mas vivemos em uma democracia, ele é livre para tomar sua decisão.”
“É de lascar”, divertiu-se Frederico. “Até o final da campanha o convenço a votar 17 [número do PSL]”, retrucou.
“Chance zero”, treplicou o primo. Elogiando Alckmin, Coelho afirmou que “pesquisa não diz nada, o que importa é o conteúdo do candidato”.
As origens da família Coelho d’Avila estão no PFL, por onde passou inclusive o parente Fernando Bezerra Coelho, senador pelo MDB-PE, mas que começou a carreira no PDS (sucessor da Arena, partido de sustentação da ditadura).
Frederico diz que a família, exceto Bezerra Coelho, à época filiado ao PSB e aliado do então presidente Lula, foi importante para a primeira campanha de Alckmin à Presidência, em 2006. “Se não fosse o PFL [hoje DEM], ele não tinha nem sequer ido para o segundo turno. O PSDB só o sacaneou”, afirma.
Ele migrou do PFL para o PSDB naquela eleição para acompanhar Alckmin. Em 2014, mudou-se para o PP e neste ano ingressou no PSL de Bolsonaro, “um cara afetuoso, brincalhão, porém muito verdadeiro e autêntico, dono de valores e princípios éticos inabaláveis”. COm informações da Folhapress.
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