Magda é dona de empreendimentos que incluem parques temáticos, condomínios e hotéis
Magda Mofatto e seus dois helicópteros estacionados às margens do Lago Corumbá I, em terreno de seu namorado, Flávio Canedo, presidente do PR de Goiás e condenado por tortura em primeira instância (Foto: JORGE WILLIAM/AGÊNCIA O GLOBO)
Nascida em Limeira, São Paulo, a deputada federal Magda Mofatto (PR-GO) – a mais rica da Câmara, com patrimônio de R$ 21 milhões – administra hoje negócios milionários em Caldas Novas, cidade conhecida pelas águas termais e por parques aquáticos e por ser um dos destinos turísticos mais procurados do Centro-Oeste. Na cidade goiana, ela é dona de um império imobiliário, que inclui a administração de 11 condomínios, parques temáticos, dois hotéis e uma construtora própria para erguer edifícios na cidade. Foi vereadora do município por três vezes e prefeita cassada, em 2007, por compra de votos.
Dentro de seu Range Rover, de óculos escuros e os cabelos presos, Mofatto apresentou a cidade a ÉPOCA durante um tour de quase quatro horas, com a devida pausa para o almoço, para que todos os seus negócios fossem apresentados. “Esse condomínio, eu construí”; “esse também”; “aquele prédio está quase acabando de ser construído”, dizia a cada parada. “Essa calçada, eu que fiz, o prefeito não faz nada, um absurdo”; “aquele outro condomínio, eu também fiz.”
Com o passo apressado, a deputada caminhou por suas propriedades e foi reconhecida por funcionários e habitantes da região. Ao sair do Jardim Japonês, ponto turístico também construído por ela, foi apontada por um grupo de adolescentes: “Olha, é a Madga, é a Magda”. “Você viu? Aqui é assim”, disse ela. Ao entrar em cada um de seus condomínios, dirigia a mesma pergunta aos funcionários: “Quantos anos de casa?”. A resposta oscilou de cinco a 30 anos.
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Parte dos negócios da deputada foi batizada com a redução “Roma”, junção de Rodolfo, seu antigo “namorido”, e Magda. Ela disse que seu primeiro empreendimento, um hotel, foi feito na casa do ex-companheiro, mas resolveu manter a marca até hoje. “As pessoas dizem que me aproveitei do dinheiro dele, mas fiz tudo sozinha”, registrou. Apesar de manter o selo para os negócios, Mofatto insinuou, em tom de galhofa, que a denominação é fonte de dor de cabeça, pois o atual “namorido” tem ciúmes.
Trata-se de Flávio Canedo, presidente do PR em Goiás, a quem Mofatto confiou sua articulação política. Em espaço contíguo a um de seus hotéis, em terreno arborizado, fica o escritório político da deputada. Lá, recebe vereadores, deputados e faz reuniões para traçar a estratégia de campanha. Canedo participa dos encontros e comanda as tratativas.
O presidente do PR e “namorido” de Mofatto foi condenado por tortura em primeira instância. Em 2002, no mesmo Jardim Japonês, em Caldas Novas, Canedo e mais duas pessoas teriam torturado Frederico Daniel de Carvalho. Os três suspeitavam que ele tivesse roubado uma espingarda. Para arrancar uma confissão e recuperar a arma, golpearam a vítima nas costas com um porrete de madeira. Depois, sua cabeça foi submersa em uma bacia com água, além de amarrarem sua língua com um cordão fino e puxarem. Conseguiram a confissão.
Mofatto atribuiu a abertura do processo a “perseguição política”. Reconheceu que de fato houve o roubo, mas alegou que Canedo “não estava presente” no momento do ato de vingança. Ainda não houve nenhuma punição porque o caso se arrasta no Judiciário. Depois de ir para o Tribunal de Justiça de Goiás, retornou à Comarca de Caldas Novas, segundo o Ministério Público.
Mofatto e Canedo são companheiros, mas moram em casas separadas. No terreno de Canedo, às margens do Lago Corumbá I, estão estacionados os dois helicópteros de Mofatto e o barco La Dolce Vita, com capacidade para 45 pessoas. Na propriedade, os equipamentos possantes dividem espaço com pavões, macacos-prego e gatos. Não é tão harmônico quanto pode parecer. Apesar da paisagem exuberante e da fauna exótica, os primatas insistem em roubar comida e objetos. Os pavões, para infortúnio do casal, adotaram um local inapropriado para defecar: o La Dolce Vita. Mofatto tem licença para pilotar e costuma ir a Brasília de helicóptero, trajeto de uma hora. Para abastecer a aeronave, usa o dinheiro da cota parlamentar, uma despesa permitida pela Casa. Em abril, por exemplo, a Câmara pagou R$ 1.931,20 em querosene de aviação para a deputada.
Como parlamentar, Mofatto tem atuação discreta. Faz poucos discursos em plenário e concentra seus esforços nas pautas de geração de emprego e segurança pública. Com a escalada da violência no país, o segundo tema ganhou mais importância para seu mandato.
Mofatto disse que, antes de aderir a Bolsonaro, votou em Lula nas duas vezes em que o ex-presidente foi eleito. Segundo ela, foi fundamental a garantia de estabilidade dada por José Alencar, o ex-vice-presidente filiado ao PR, por quem tinha apreço. Ela disse que não engoliu, porém, o “desrespeito” dos governos petistas pelo resultado do referendo de 2005, no qual o “não” ao desarmamento saiu vencedor com 63% dos votos. “O governo desarmou a população, mas não consegue desarmar o bandido”, desabafou.