O Mundo: Foto de pai e filha afogados expõe drama da imigração para os EUA

O salvadorenho Óscar Ramírez tinha 25 anos e Valeria, menos de 2. Travessias clandestinas aumentaram com limite de Trump para a concessão de refúgio
Por Da Redação

Pai e filha tentaram atravessar o Rio Grande, mas se afogaram diante do olhar da mãe da menina antes de chegar ao lado americano - 24/06/2019 (Julia Le Duc/AP)

A imagem de um migrante salvadorenho e sua filha de quase 2 anos afogados após tentarem atravessar a fronteira do México rumo aos Estados Unidos se tornou mais um alerta sobre a situação dos milhares de centro-americanos que tentam entrar ilegalmente em território americano.

Os corpos foram encontrados na segunda-feira 24. Pai e filha tentaram atravessar o Rio Grande na altura da cidade de Matamoros, no estado mexicano de Tamaulipas.

Óscar Martínez Ramírez, de 25 anos, trabalhava como cozinheiro em El Salvadore pretendia buscar uma nova oportunidade nos Estados Unidos. Para atravessar o rio, colocou Valeria, de 23 meses, por dentro de sua camisa.

Os dois se afogaram diante do olhar da mãe da menina antes de chegar ao lado americano.

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A família estava em Tapachula, no Estado de Chiapas, desde a semana passada. Eles pretendiam pedir refúgio nos Estados Unidos, mas descobriram que a ponte internacional que liga o México ao território americano estaria fechada até segunda. No domingo, eles decidiram atravessar pelo rio.

A mãe, Tania Vanessa Ávalos, de 21 anos, contou à polícia americana que Óscar entrou na água com Valeria, enquanto ela seguia logo atrás acompanhada por um amigo da família.

Porém, os dois desistiram e retornaram ao lado mexicano. O pai e a menina se afogaram no forte fluxo do rio antes de chegar à fronteira americana, segundo as autoridades.

A jornalista Julia Le Duc, da agência Associated Press, capturou a cena apenas algumas horas após a morte dos migrantes. A fotografia dos corpos provocou uma grande comoção nos Estados Unidos e em todo o mundo.

“É muito lamentável que isso aconteça”, disse o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, em entrevista coletiva nesta terça-feira, 25. “Mas à medida que mais migrantes foram sendo rejeitados pelos Estados Unidos, há mais pessoas que perdem sua vida no deserto ou atravessando o Rio Grande.”
Travessias arriscadas

Desde quinta-feira 20, outros sete corpos de imigrantes foram encontrados nos limites entre o México e os Estados Unidos, segundo informações da polícia do Texas. Entre as vítimas estão uma mulher, dois bebês e uma criança.

A exposição ao calor e a desidratação são as possíveis causas dos óbitos.

As travessias exaustivas e clandestinas dos migrantes se intensificaram com os limites recém-estabelecidos pelo governo do republicano Donald Trump, que restringiu o número diário de pessoas que podem solicitar refúgio nos Estados Unidos nos postos de entrada da fronteira.

Com a expectativa de meses na fila de espera para as entrevistas com as autoridades americanas, muitas famílias migrantes optam por cruzar a fronteira de modo arriscado para fazer suas solicitações e atravessar a região desértica.

Os coiotes, como são chamados os intermediários do tráfico ilegal de pessoas na fronteira, colocam em risco a vida dos migrantes, deixando-os em áreas isoladas ou enviando-os para cruzar o Rio Grande em jangadas improvisadas.

A Patrulha da Fronteira registrou 283 mortes de imigrantes no limite entre Estados Unidos e México apenas no ano passado. Ativistas de direitos humanos dizem que o número é muito maior, pois os restos mortais de muitas vítimas nunca são encontrados e os dados da agência não incluem todas as mortes registradas pelas autoridades locais.
Maus-tratos a crianças

John Sanders, chefe do Escritório de Alfândega e Proteção Fronteiriça (CBP, na sigla em inglês) e principal funcionário de controle fronteiriço dos Estados Unidos, renunciou ao cargo nesta terça.

A partida de Sanders ocorre após as revelações das condições de insalubridade em que viviam menores retidos em um centro da Patrulha Fronteiriça na cidade texana de Clint, um sinal da crescente pressão sobre os recursos públicos diante do aumento das detenções na fronteira sul.

A visita de uma ONG a este centro, situado 30 quilômetros a sudeste de El Paso, mostrou várias irregularidades, entre elas a superlotação do espaço pelos internos e a falta de higiene e de atendimento médico nas instalações.

Uma investigadora do Human Rights Watch (HRW), Clara Long, contou ter visto um “menino de 3 anos, com os cabelos emaranhados, tosse seca, calças imundas e olhos que fechavam de cansaço”.

O pequenino, que tinha cruzado a fronteira com um irmão de 11 anos e um tio de 18, estava detido havia três semanas. Separado do tio maior de idade, estava aos cuidados do irmão mais velho.

O Departamento de Saúde dos Estados Unidos (HHS) anunciou na segunda-feira que 249 crianças que se encontravam no centro de Clint, perto da cidade fronteiriça de El Paso, no Texas, “deveriam estar sob custódia do HHS nesta terça-feira”, reportou a CNN.

Em um relatório publicado nesta terça, a organização Human Rights Watch (HRW) denunciou a situação deplorável dos menores de idade alojados no local. Trata-se de crianças migrantes que viajavam sozinhas ou que foram separadas de seus familiares pelas autoridades.

As irregularidades incluem desde crianças sem atenção médica adequada até a falta de camas, que obriga muitos a dormir sobre o piso de cimento, apenas protegidos por cobertores térmicos. No entanto, foi noticiado nesta quarta-feira, 26, que mais de 100 crianças foram devolvidas a esse centro, sem que fossem divulgados mais detalhes.

(Com AFP e Reuters)
https://veja.abril.com.br

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