Luciano Tavares - Blog da Hora 31 Dezembro 2019
Os últimos dias de 2019 foram um aprendizado e tanto para Gladson Cameli. Dias atípicos na vida política de quem já foi deputado federal e senador da República e que há um ano ocupa o cargo mais importante do Estado do Acre.
No Natal, Gladson entregava cestas básicas e brinquedos a crianças em Cruzeiro do Sul. Um dia depois, 26 de dezembro, ele está em seu escritório de trabalho no bairro Vila Ivonete, em Rio Branco, por onde começaria uma sequência de entrevistas previamente agendadas em TVs e rádios e por jornais eletrônicos.
A entrevista ao Notícias da Hora em seu escritório estava marcada para as 14h. Gladson chegou no horário agendado. De mochila nas costas e uma lata de Coca-Cola na mão esquerda, ele desce do veículo oficial do Estado, uma SW4 preta, com o bom humor de sempre. Cumprimenta os policiais que fazem a segurança do local, os copeiros e chama pelo Eduardo, o rapaz responsável por reparos em suas miniaturas de aviões.
Subindo os degraus de madeira da escada caracol para o andar superior do escritório, Gladson conta entusiasmado que conseguiu comprar um simulador de voo. Aeronaves são mais que um simples hobby do governador. São uma verdadeira paixão de infância. Ele sempre sonhou em ser piloto de avião. Fez o curso. Ganhou autorização para pilotar aviões pequenos. "Tenho que tirar um tempo para renovar", diz ele sobre o registro.
Antes de se dirigir ao seu gabinete para a entrevista, Gladson vai primeiro à sala de miniaturas de aviões. São 400 de modelos diferentes. Alguns presenteados. "Aqui eu tiro parte do estresse", conta.
Em um ano de gestão, o jovem governador de 41 anos ganhou seus primeiros cabelos brancos e engordou sete quilos. Coisas do estresse do cargo que ocupa. Em 1º de janeiro de 2019, Gladson pesava 92 quilos, em 31 de dezembro está com 99.
No meio da conversa, entre um assunto e outro, ele lembra da criança que em uma cartinha lhe pediu um sorvete em vez de brinquedo, e se emociona. É o reflexo de um Acre empobrecido.
"As principais decisões do Estado são tomadas no Palácio. Aqui eu faço algumas reuniões. Mas aqui, essa sala, também serve como uma espécie de terapia", diz.
– O senhor parece detalhista...
– Sim, eu mesmo cuido das miniaturas. Minhas camisas estão sempre posicionadas em cores. Se tiver algo fora do lugar sou chato para cobrar.
– E como é sua relação com quem trabalha aqui?
– Boa. Mas às vezes, por causa dos problemas do Estado, acabo me estressando... Não deu nem tempo de fazer um amigo oculto com o pessoal...
Cameli conversou com o NH sem tabus. Falou sobre tudo: política, eleições 2020, relação com a gestão Socorro Neri, segurança, saúde, fala de seus hobbies, cita o pai Eládio, o filho Guilherme e o que pensa sobre Jorge e Tião Viana e Marcus Alexandre.
Perfil populista?
Alguns comportamentos e ações pouco comuns para um chefe de Estado, porém não proibidos, chamaram a atenção de quem esteve perto do governador Gladson Cameli, como os jornalistas que cobrem algumas de suas agendas diárias. Sentar em banco de cimento em calçada movimentada no Centro de Rio Branco e "despachar" com a secretária de Fazenda; "enfrentar" manifestantes em praça pública e com eles dialogar, apesar do riscos de eventuais xingamentos; sentar nas escadarias do Palácio Rio Branco e depois descer para o meio de um protesto de agentes da Polícia Civil; comprar do próprio bolso 100 bicicletas, centenas de cestas básicas e brinquedos para crianças carentes e subir um barranco na beira do rio carregando um sacolão para entregar a uma família.
– Eu fico triste quando alguém diz que eu fui dar sacolão para alguém para fazer politicagem ou pra aparecer. Eu não preciso disso. Eu adoro crianças. Tem momentos que eu viro uma criança. Demorou muito pra eu perceber que estava perdendo a infância do meu filho, que tem sete anos. Os momentos que eu tenho de folga aos domingos à tarde, eu estou brincando com ele. Ele adora avião também. E ele mexe. E quando ele quebra, ele vem triste pra mim: 'papai eu quebrei'" E eu digo: 'não fique triste. Só me avisa'.
O exemplo do pai; "aprendi a fazer as coisas de coração"
–Eu não brinco com comida. Estou falando sério. Meu pai veio de baixo. Meu pai quando casou com minha mãe, eu já falei isso várias vezes, ele comprou o fogão à prestação. Meu pai me falou uma vez uma coisa que eu não sabia. Foi na adolescência dele. Quando ele tinha uns 12 ou 13 anos. O médico foi consultar o tio Orleir lá no Juruá, naqueles tempos atrás, passou um remédio, e me avô não tinha dinheiro para comprar o remédio. Minha família tem defeito. Tem. Mas eu fui criado assim, a saber respeitar e a estender a mão às pessoas. Os funcionários do meu pai se hospedam onde ele se hospeda, almoçam onde ele almoça, os amigos dele são os funcionários dele. Meus tios mesma forma. Meu avô também. Eu aprendi a fazer as coisas de coração.
Os Viana
Gladson afirmou que não tem absolutamente nada contra os irmãos Jorge, ex-senador, e Tião Viana, ex-governador. Ele afirmou que falou algumas vezes com Jorge Viana depois que assumiu o governo. Tião Viana, Gladson afirma que viu uma única vez depois que virou governador. "Foi em um voo", afirma. Sobre Marcus Alexandre, seu adversário na disputa pelo governo em 2018, Gladson diz que não tem o porquê de ter qualquer sentimento de rivalidade. "Eu até cedi ele para o TJ", conclui.
Rombo financeiro e perspectivas
– O senhor tinha noção do tamanho do rombo do Estado?
– Tinha noção. Mas o problema é bem maior do que eu imaginei. Mas estamos consertando. Pagamos muitas dívidas. Estamos preparando o Estado para melhorias. Investimentos. Obras.
–O maior problema de seu governo é a saúde ou a segurança?
– Ego. O maior problema é o ego.
Eleições municipais: a engenharia da junção
Cameli afirmou que sabe de sua responsabilidade como condutor do processo por sua posição de governador do Acre sustentado politicamente por uma frente ampla e diversa de partidos políticos e salientou que vai tentar juntar as siglas que atualmente compõem a estrutura de seu governo.
"Eu sei que tenho que participar e vou participar. Ainda vou estudar os candidatos. Todo partido tem condição de ter candidato. Minha ideia é que tenha uma um nome para colocar na mesa de discussão e una os partidos. As pessoas dizem que quanto mais candidato, melhor para ganhar uma eleição, mas não se compara uma eleição com a outra."
Perguntado sobre os nomes à disposição até o momento, Cameli citou o professor Minoru Kimpara como uma possibilidade, mas não descarta outros eventuais concorrentes ao cargo de prefeito da Capital que fazem parte do grupo de siglas que hoje ajudam a governar o Acre.
"Todos os nomes colocados estão na disputa. O Minoru, eu tenho todas as condições de apoiá-lo. Não tenho problema com isso."
Cameli deixou claro, porém, que quer promover um debate amplo e sem qualquer censura a nomes "sem empurrar goela abaixo".
Se não houver entendimento para o primeiro turno a saída será apoiar um candidato em um eventual segundo turno.
"Eu ainda vou chamar todos os partidos políticos para a gente tentar um alinhamento, e se não tiver a gente vai conversar em um possível segundo turno. O que eu não vou, e isso não é do meu perfil, é estar empurrando um nome de goela abaixo. Não é do meu perfil. O que eu preciso deixar claro é que quem quer que seja o candidato ele tem que ter as condições para administrar e não querer mandar a conta pro Estado, fazer seu papel constitucional.
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