A última segunda-feira, 17, foi dia de uma experiência muito comum entre os jovens. O primeiro dia de aula em uma faculdade fica marcado na lembrança dos chamados calouros. Assim foi para os alunos recém-chegados aos cursos de um centro universitário na capital acreana. Foi o dia de conhecer os professores, saber como vai ser o curso e quais as disciplinas serão estudadas.
Na sala da turma de Direito também foi assim, mas um aluno logo chamou atenção. Sentado na segunda fila, sem tirar os olhos do professor e com aquela expressão no rosto de quem diz: “eu consegui!”, estava seu José Carneiro Belmiro. Natural de Tarauacá, nascido no Seringal Sumaré, hoje, aos 69 anos, é o aluno mais velho da instituição e calouro do curso de direito.
Conversar com seu José é, antes de tudo, uma aula de perseverança e esperança. Ele conta que nasceu no seringal que fica às margens do Rio Tarauacá. O primeiro contato com as letras, que era dividido entre a tarefa de juntar coquinhos para que o pai usasse na defumação da borracha, foi com a própria mãe. “Ela tinha pouco estudo, mas o que sabia, fazia questão de ensinar pra gente. Eu já saí do seringal sabendo ler e escrever”, diz.
A necessidade de sobrevivência fez com que seu José tivesse que abandonar os estudos. Dividindo-se entre o Acre e Rondônia, conta que fez de tudo na vida. “Servi ao Exército, depois fui operador de máquina pesada, tive lanchonete, tudo que você imaginar eu já fiz nessa vida”, conta orgulhoso.
Divorciado, com dois filhos, um desejo nunca abandonou o coração de seu José. Mesmo estando há mais de 30 anos sem sentar em um banco de escola e sem ter terminado o segundo grau, o que hoje é chamada de ensino médio, seu José sonhava em ser advogado. “Eu sempre que precisava da justiça ficava encantado com aquele mundo. Sempre achei fascinante esse trabalho. Eu ficava pensando que um dia ia realizar o meu sonho”, explica.
Como os sonhos não se realizam só com vontade, seu José decidiu tomar uma atitude. Voltou aos estudos e concluiu no ano passado o ensino médio. Não pensou duas vezes. Inscreveu-se em um vestibular para o curso de direito, foi aprovado e agora já é aluno do curso tão sonhado. “Eu terminei o segundo grau no ano passado e agora estou aqui. Me sinto extremamente agradecido à Deus por essa oportunidade. Por tudo que eu passei na minha vida, viver o que estou vivendo é só pela graça de Deus”, afirma seu José.
Como o curso tem duração de quatro anos, seu José vai se formar aos 73 anos. Quando questionado sobre os que as pessoas dizem sobre ele ter começado um curso superior aos 69 anos, vem a resposta de quem o tempo ensinou que a opinião alheia está longe de ser algo que interfira em sua vida. “Tem tanta gente nova pensando em deixar de viver. A vida é tão maravilhosa. As pessoas ficam estagnadas no tempo. O que eu tenho pra dizer é que não desistam, continuem lutando porque enquanto existe vida, há tempo de lutar pelos sonhos”.
O advogado Fábio Santos é coordenador do curso de direito na Unimeta. Ele fala da inspiração que seu José já se tornou para professores e colegas. “Nossos professores que são juízes e promotores estão extremamente felizes em receber seu José como aluno. Ele é uma inspiração. Mostra que não há idade para lutar pelos sonhos. O esforço e a dedicação o tornam um exemplo de perseverança para todos nós”, diz.
Por AC24Horas
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