Nove mexidas foram feitas no primeiro escalão de Gladson Cameli em 14 meses de gestão. As pedras deste jogo de Xadrez alteradas com as mãos do governador não acenam para defesa de táticas adversárias. MDB, PSD e PSDB continuam com articulações dentro do Palácio visando às eleições deste ano e de 2022.
Raphael Bastos, Vagner Sales, Ney Amorim, Alysson Bestene, Oscar Abrantes, Mônica Kanaan, Paulo Wadt, Thiago Caetano e Maria Alice: foram nove os secretários que saíram do governo Gladson Cameli em 14 meses de gestão. Sete foram demissões. Dois foram trocados: Alysson Bestene que já assumiu a pasta da saúde pela segunda vez em menos de um ano e Thiago Caetano que saiu da Secretaria de Infraestrutura para ações estratégicas.
As sucessivas mexidas no primeiro escalão do atual governo levaram opositores a deitar e rolar nas redes sociais afirmando que o governo de Gladson não tem rumo. Um das críticas mais pesadas veio do ex-senador Jorge Viana.
De fato, o chefe do executivo fez diversas alterações tanto no primeiro como no segundo e até terceiro escalão. Há quem diga que o seu maior adversário é o Diário Oficial. A nível nacional, Cameli empata com a ex-presidente Dilma Rousseff, que no primeiro ano de mandato (2011) fez nove trocas de ministros.
A pasta que mais sofreu alteração no primeiro ano de mandato do atual governo foi a de articulação política, que começou com o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales como secretário e acabou sendo extinta na segunda reforma enviada para a Assembleia Legislativa do Acre.
Vagner deixou o governo por determinação do Poder Judiciário, além de ter sofrido condenação em última instância, tornou-se improbo em junho do ano passado, decisão que levou o Palácio Rio Branco a tornar sem efeito a sua nomeação. Ele passou praticamente seis meses cumprindo expediente na Casa Civil, na avenida Brasil.
Alysson Bestene, ex-vereador de Rio Branco, foi chamado para compor a pasta mais importante do governo após ser exonerado da Secretaria de Saúde. O sobrinho do deputado José Bestene ficou na pasta de articulação por exatos cinco meses, quando voltou para a secretaria de saúde no lugar de Mônica Kanaan, ex-secretária importada de Brasília.
Após derrotas consecutivas na relação com a Assembleia Legislativa, uma delas a votação histórica da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO), que levou o governo a enfrentar a maior crise política de 2019, Cameli decidiu extinguir a secretaria de articulação política.
As mexidas no tabuleiro não paravam. A pedra da vez era o secretário de produção Paulo Wadt. Após uma pífia atuação na secretaria responsável pelo maior projeto do Palácio Rio Branco: o agronegócio, denúncias feitas pela deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC), agravaram a crise no setor. Wadt foi convidado a sair do governo dia 12 de novembro do ano passado.
De todos os demitidos, o de passagem mais emblemática foi Ney Amorim, ex-petista, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Acre. Ele pediu para sair no dia 18 de junho de 2019. Até hoje não se tem informações do papel de Amorim na gestão Cameli. Nomeado para o cargo de Assuntos Extraordinários e Estratégicos, durante quatro meses, ele não apareceu em uma única agenda institucional. Não há registros e muito menos despachos feitos pelo ex-deputado.
Para seu lugar, no apagar das luzes de 2019, Cameli trouxe o ex-secretário de infraestrutura, Thiago Caetano. Essa talvez tenha sido uma das mexidas mais estratégicas feita pelo governador. Caetano figura como um dos pré-candidatos a prefeitura de Rio Branco pelo Progressistas, partido do governador.
A pasta do planejamento – considerada a mais estratégica de uma gestão – foi quem primeiro registrou baixa. Raphael Bastos, nomeado pela cota do Democratas, do deputado federal Alan Rick, ficou praticamente quatro meses no cargo, foi exonerado no dia 24 de abril do ano passado depois de bater de frente com o secretário da Casa Civil, Ribamar Trindade e o chamado Núcleo Duro do governo.
Maria Alice que assumiu no lugar de Raphael, aumentando a cota de secretários da cota emedebista, pediu para sair do governo há três dias. Ela não aceitou a decisão de Cameli que pretende desmembrar a supersecretaria de administração e planejamento.
Horas depois da entrevista do ex-senador Jorge Viana, Maria Alice endossou suas críticas e saiu afirmando que o “estado está sem rumo”. Em nota, Cameli agradeceu o esforço e os serviços prestados pela emedebista.
De todas as exonerações, a de Oscar Abrantes, da Controladoria Geral do Estado, foi a que mais surpreendeu. Considerado um dos líderes do chamado Núcleo Duro do governo, Abrantes foi indicado pelo conselheiro Malheiros, do Tribunal de Contas do Estado.
Deste grupo de pessoas de extrema confiança, que chegou a ser chamado de República do TCE, pela influência do conselheiro Malheiros e ligações com o pai do governador, Eládio Cameli, ameaçaram pedir demissão, no final de 2019, o chefe da Casa Civil, Ribamar Trindade e a secretária de Fazenda, Semírames Plácido. Esta última, chegou a pedir exoneração em agosto, mas, a pedido do governador, voltou atrás. O mesmo aconteceu com Ribamar Trindade, que após o dia de Santos Reis, decidiu permanecer na Casa Civil.
O que não ficou claro em nenhuma das mexidas no tabuleiro feitas com aval do governador Gladson Cameli foi o objetivo das mudanças e trocas de secretários. Num jogo de xadrez qualquer pedra movida de canto tem como tática a anulação do adversário.
Mesmo tendo mexido nove vezes no seu primeiro escalão, PSD de Sérgio Petecão e PSDB do vice-governador Major Rocha são acusados de usar a máquina pública para se promoverem politicamente com vistas às eleições de 2022.
O MDB que chegou a ocupar três secretarias com cargos em todos os escalões de governo, é tido como o partido com mais espaço na gestão e, ao mesmo tempo, o partido que mais dor de cabeça dar ao governo, através da atuação do deputado Roberto Duarte, que age com a bandeira de independência, lançado recentemente, pré-candidato à prefeitura de Rio Branco.
A verdade é que alguns secretários entraram na festa momesca sem saber se vão resistir ao período da Quaresma. Um áudio vazou essa semana com a trama de derrubada de mais um secretário, o professor Mauro Sérgio da Educação, setor mais bem avaliado em recente pesquisa de opinião pública.
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