Por Leônidas Badaró
Pelo que se tem visto nas ruas de Rio Branco, boa parte da população ainda não entendeu o tamanho do problema de saúde pública que é a pandemia de coronavírus.
E aqui não se fala dos trabalhadores que não tem outra opção e precisam sair de suas casas para trabalhar. O alvo é quem pode ficar em casa, em quarentena como recomendam as autoridades de saúde para combater a proliferação do coronavírus, que já tem 41 casos confirmados no Acre.
No mundo, até o momento, o coronavírus já matou mais de 24 mil pessoas e esse número só aumenta diariamente. No Brasil, as mortes já chegaram até a manhã desta terça-feira, 31, a 168.
E no Acre, o que pode acontecer nas próximas semanas? Até agora o estado não atestou nenhuma morte provocada pela doença. No entanto, as autoridades de saúde afirmam que estamos no começo e vivemos um momento decisivo ao longo desta semana e por isso a quarentena é primordial para conseguir controlar a proliferação da doença.
O cientista, pesquisador e professor da Universidade Federal do Acre (UFAC) Foster Brown fez uma projeção para o Acre, caso o estado tenha o mesmo índice de mortes da Espanha. O número de óbitos pode se tornar assustador.
Na Espanha, o índice é de 2 mortes a cada 100 mil habitantes por dia. Trazendo essa infeliz realidade para o Acre, se a mesma proporção for repetida, levando em conta uma população de 800 mil habitantes, significa que 16 pessoas podem morrer por dia no auge da pandemia no Acre.
Para se ter uma ideia do que isso representa, a taxa de homicídio no Acre, que é considerada uma das mais altas do país, em janeiro deste ano foi de 0,2 mortes por cada 100 mil habitantes, o que representa 1.6 assassinatos por dia. Ou seja, o coronavírus pode matar 900% a mais que a guerra de facções no Acre.
O pesquisador faz o alerta. “Esses são números reais, do que está acontecendo no mundo. Como vai ser o Acre se ninguém mais ficar em quarentena? Vale lembrar que o nosso sistema de saúde não pode ser comparado aos da Espanha e Itália”, diz Foster.
A Secretaria Estadual de Saúde também fez uma projeção. Segundo o médico Thor Dantas, de acordo com o estimado pela Sesacre, se 10% da população acreana for infectada com o coronavírus, teríamos 86,6 mil pessoas com a doença.
Isso resultaria em aproximadamente 3.171 pessoas especializadas, sendo que dessas, 678 precisariam de cuidados intensivos. A estimativa é de 328 mortes.
É importante lembrar que uma das principais preocupações das autoridades de saúde é exatamente com supostos pacientes que necessitem de cuidados intensivos, já que o estado tem apenas 194 UTIs.
“Aqui no Acre a gente conseguiu pegar a epidemia na hora que ela chegou. Nós estamos quatro semanas atrás do Rio de Janeiro e São Paulo no andamento da epidemia. Por isso eu digo que estamos em um momento decisivo, é hora de fazermos o maior esforço possível para evitar que o vírus de espalhe para todo mundo. O ciclo é previsível. Leva quatro semanas para atingir seu pico.
As consequências de voltarmos a circular neste momento podem ser as piores possíveis”, diz Thor Dantas.