Por Raimundo Angelim
Sem emprego não há salário. Sem salário não há consumo. Sem consumo não há investimento. Sem investimento não há crescimento da economia. E se a economia não cresce, não gera empregos. Esse círculo vicioso de empobrecimento foi iniciado quando o Governo Temer implantou uma política de desinvestimento público que, continuamente, joga milhares de trabalhadores na vala do desemprego. Assim o Brasil iniciou esse ano de 2021 com 14 milhões e 272 mil desempregados. A taxa média de desemprego é recorde: 14,2%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), divulgada no dia 31 de março pelo IBGE.
Para quebrar o círculo vicioso que falamos acima, a primeira e urgente medida é a implementação de um Programa Nacional de Renda Básica. Possibilitar a população desempregada suprir suas necessidades básicas representa um esforço social de forte impacto econômico. Concomitante a ele, é preciso um aporte de recursos do Governo para ajudar as empresas, especialmente as pequenas e médias, as que mais geram oportunidades de trabalho. Estancando a sangria de falências e demissões decorrentes da crise pandêmica e trazendo de volta ao consumo a massa de desempregados, o Brasil enxergará o caminho de volta ao crescimento econômico e social.
A base de uma economia próspera são os investimentos públicos. Na sua esteira vem o investimento privado. Quem promove o desinvestimento público induz, por consequência, o encolhimento setor privado. Não sabemos a quem isso pode interessar, mas é o que acontece quando o Orçamento da União para 2021 destina para investimentos públicos o menor percentual dos últimos anos.
Outro fator importante para o desenvolvimento do País é um forte investimento na educação, num esforço nacional de qualificação do enorme contingente de brasileiros com baixa escolaridade ou fora da escola. Aliado a investimentos na área da ciência, tecnologia e inovação. Mas nessa área as notícias também não são boas.
O Jornal da USP publicou na quarta feira, 20 de abril, que o resultado do último edital de bolsas de doutorado e pós-doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -CNPq, de um total de 3.080 mil solicitações aprovadas com mérito, apenas 396 vão receber bolsas. As outras 2.684 solicitações não foram contempladas por conta das limitações orçamentárias da agência. Como bem disse o Pró-Reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo “Esse cenário só atesta, mais uma vez, a situação precária em que se encontra o financiamento à pesquisa no Brasil”.
O corte de recursos tem se estendido também para as nossas Universidades e Institutos Federais, com crescentes cortes de recursos, o que praticamente inviabiliza a melhoria e expansão de suas atividades acadêmicas, de ensino, pesquisa e extensão.
Esses constantes cortes de recursos têm impactos extremamente prejudiciais ao presente e ao futuro do país, com a saída de muitos jovens cientistas do Brasil para outras Universidades e Institutos de Pesquisas do exterior, onde podem dar continuidade às suas pesquisas.
O mundo pós pandemia exigirá cada vez mais pessoas com alta qualificação para as novas oportunidades, num mercado de trabalho mais competitivo, tecnológico, sem fronteiras territoriais e exigente.
Se não retomar os investimentos públicos, especialmente em educação, ciência e tecnologia, e não resgatar milhões de desempregados para o mercado de trabalho e o consumo, começando por um Programa Nacional de Renda Mínima, em poucos anos o Brasil perderá a capacidade de reagir e quebrar o círculo vicioso do empobrecimento.
Ainda é tempo de reagir e criar um novo círculo virtuoso de desenvolvimento, com inclusão e oportunidades para todos os brasileiros.
Raimundo Angelim escreve todos os sábados no ac24horas.com