Não foi uma vitória do PT ou da esquerda. A mais importante eleição desde a redemocratização do país foi definida essencialmente pela união dos democratas
30 de outubro de 2022, 20:06 h Atualizado em 30 de outubro de 2022, 20:27
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
Ricardo Bruno
Por desejo inequívoco da maioria dos brasileiros, encerrou-se hoje um dos períodos mais sombrios da história contemporânea do País. Pela força incontrastável por voto, livre e soberano, Jair Messias Bolsonaro foi democraticamente retirado do poder. Em seu lugar, assumirá Luiz Inácio Lula da Silva – eleito Presidente da República pela terceira vez, agora com a missão histórica de reconstruir um país dilacerado pelo ódio, pela guerra fratricida, pela decomposição do tecido social, onde estavam fundados sonhos e conceitos civilizatórios como alteridade, solidariedade e fraternidade.
Não foi uma vitória do PT ou da esquerda. A mais importante eleição desde a redemocratização do país foi definida essencialmente pela união dos democratas. No curso do processo eleitoral, a candidatura de Lula se alargou, ganhou musculatura com adesões à esquerda, ao centro e à direita. No início da campanha, Lula era apenas o candidato do PT; depois, se tornou também da esquerda; mais à frente se transfigurou, no melhor sentido, no candidato dos democratas.
É nesta condição que ele vai assumir o posto de 39º Presidente da República do Brasil. Sua missão é diferente de 2003, quando assumiu o poder com a tarefa de aprofundar as conquistas sociais iniciadas por Fernando Henrique Cardoso com o Plano Real.
Com dois mandatos, Lula erradicou a fome, universalizou o acesso às universidades, ampliou o emprego e fez o país crescer a índices de primeiro mundo. Éramos a 7ª economia do planeta. Hoje, somos a 13ª. Regredimos muito, sob todos os ângulos.
O papel de Lula em 2023 lembra o de Tancredo Neves em 1985 - que infelizmente não pode se cumprir pela fatalidade da morte antes mesmo da posse. O retirante de Garanhuns que conquistou o Brasil tem pela frente o desafio de reunificar o país, trincado pelo ódio. Reunir os brasileiros em torno de um projeto amplo, consistente, que garanta desenvolvimento e paz social para as próximas gerações.
Com diálogo e respeito às diferenças, Lula será presidente de todos a partir de 1º de janeiro de 2023. Sem exclusões, preconceitos ou rixas. Bolsonaristas e não bolsonaristas serão cuidados com a mesma atenção pelo novo mandatário. Não há espaço mais para nós e eles. O agravamento da crise institucional do país nos obriga a entender que a pacificação é premissa para a construção de um futuro venturoso.
A despeito das emoções ainda pulsantes, a eleição já ficou para trás. Já é parte da história.
A divergência termina com o fechamento das urnas. A partir do resultado, a democracia nos obriga a esquecer as diferenças para juntos reerguermos o País.
Ao assumir, Lula terá a tarefa de ser o artífice de um grande pacto nacional, com a participação de todas as forças sociais – partidos políticos, sindicatos, trabalhadores e empresários. A exemplo do Pacto de Moncloa, comandado por Adolfo Suarez na Espanha, após o período franquista, é necessário se estabelecer condições mínimas de consenso para o país voltar à normalidade democrática, se desenvolver, gerar riqueza, prosperidade e reduzir as desigualdades.
E somente Lula tem liderança e capacidade para cumprir este papel, que lhe foi reservado na história pelos brasileiros em manifestação democrática neste 30 de novembro de 2022 – dia em que, pela força do povo, sacramentou-se sua volta ao poder.
Há razões de sobra para otimismo e esperança.
Por brasil247.com