segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

“Governar é abrir estradas” - BR-364 aprovada há 80 anos é considerada a pior rodovia federal do Brasil



Jairo Carioca – Papo de Cafezinho Papo de Cafezinho - Por Jairo Carioca 22 Janeiro 2023

Os dados são do relatório da CNT. Em 2021 o quantitativo de pontos críticos foi maior do que o registrado entre todos os estados brasileiros em 10 anos. “Rodovia Acreana” era o nome que constava no plano nacional rodoviário nacional em 1942. Modal rodoviário que serve 82% da população acreana se dissolve com o tempo. O pior trecho é do Acre

Foi em um papo de cafezinho entre o mineiro Carangola Paulo Nunes Leal e o então presidente Jucelino Kubitschek (JK) que surgiu a ideia de trazer o Brasil para o Oeste. Depois, nos primeiros dias de fevereiro de 1960, Fontenele de Castro, Hélio Araújo e Gilberto Mestrinho, governadores dos ex-territórios do Acre, Rondônia e Amazonas, aprovam a ideia de construção da rodovia na presença do presidente JK. A estrada era parte do Plano Rodoviário Nacional elaborado em 1942, estava entre 27 rodovias e ligaria Cuiabá a Cruzeiro do Sul.

JK foi o precursor do lema “governar é abrir estradas” de autoria do ex-presidente Washigton Luiz Pereira de Souza. Ela já havia ligado Brasília a Belém e a Porto Alegre e trabalhava na ligação da capital do país a Fortaleza.

Carangola Paulo Nunes Leal liderou a caravana Ford do Centro Oeste a Amazônia Ocidental – missão conhecida como “a prova de fogo” para a BR 364 – que exigiu a abertura de variantes até a chegada em Porto Velho. A Caravana saiu de São Paulo em 28 de outubro de 1960, composta por sete caminhões F-600, um trator e um jipe. Atravessou balsas, enfrentou lama e viu ruir pinguelas. A chegada foi em dezembro do mesmo ano.

A contar do plano nacional elaborado em 1942, são exatos 80 anos de idealização da rodovia que hoje corta 09 municípios somente no Acre, servindo 82% da população do estado. O que JK não previu é que 62 anos após a autorização para a abertura dos primeiros varadouros, ela ainda fosse um desafio enorme da malha rodoviária do país.


Expedição FORD em dezembro de 1960, conhecida como "prova de fogo" para construção da BR 364

A média de pontos críticos, segundo o estudo feito pela CNT é a pior da série desde 2012, chega a 12,81/100 km. Em 2021 foi a maior densidade de todos os estados nos 10 anos considerados, correspondendo a quase 13 pontos críticos a cada 100 quilômetros.

O mais grave é que dos 1.350 km pesquisados, 407 km tem sinalização péssima. Em apenas 12 km os alertas aos motoristas dos riscos de acidentes são considerados bom.

Outro ponto analisado e apresentado no relatório divulgado essa semana, o do pavimento, também é preocupante. 1.056 km são classificados como péssimo e ruim. A geometria da via é péssima em 877 km.

Dos 173 pontos críticos encontrados dentro do trecho estadual, 56 buracos são maiores do que uns pneu de caminhão. Não há ponto considerado bom na BR 364 até Cruzeiro do Sul.

Chegada da Expedição em Porto Velho

As péssimas condições implicam na vida dos mais de 680 mil habitantes que dependem do transporte de cargas e alimentos. O aumento no custo de transporte é de 71,7%, incidindo sobre o preço final dos produtos e, também na natureza, uma vez que tais condições da via aumenta o consumo de combustível e, consequentemente, no gás carbônico lançado na atmosfera.

Essa semana o governo federal anunciou serviços emergenciais da BR 364 no plano de 100 dias. A previsão de investimentos é de R$ 1,7 bilhão. Se executado, será a maior aplicação em um trimestre na série histórica de construção e manutenção da rodovia.

A notícia foi recebida com expectativa por empresários e passageiros que usam a rodovia. A viagem que antes durava 10 horas, demora mais de 14 horas atualmente. Os gastos com manutenção de caminhões e ônibus são imensuráveis.


Marketing do governo federal na época de construção da BR 364

Você sabia?
O trecho compreendido entre as cidades de Porto Velho e Rio Branco, também é chamado de Rodovia Governador Edmundo Pinto conforme a lei federal n°11.676 de 19 de maio de 2008.

O que pouca gente sabe e é revelado no livro “o outro lado da cruz” escrito por Carangola Paulo Nunes Leal, que governou Rondônia por dois períodos, é que quando convenceu JK de construir a BR 364, disse:

“É coisa pra homem”.

Jairo Carioca é jornalista e assessor de imprensa.

Por noticiasdahora.com.br

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